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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Passarelas do Complexo Viário Júlio César em obras - As preocupações de todos nós


Alguns blogs noticiaram que, no evento de apresentação da agenda mínima do Governo do Estado do Pará, as passarelas atualmente em construção no complexo viário Júlio César teriam sido apontadas como exemplos de obras mal feitas, em virtude de seus blocos de acesso estarem invadindo o leito carroçável das vias sobre as quais se erguem. Publicou-se, ainda, que um engenheiro cujo nome não foi divulgado, teria declarado não haver como prever o aumento do fluxo de veículos decorrente da execução do elevado.

Na condição de projetistas das citadas passarelas, a equipe da Meia Dois Nove esclarece que esses mobiliários urbanos surgiram justamente para possibilitar a travessia de pedestres sobre as vias cujos semáforos foram eliminados de acordo com o novo desenho do complexo. Suas localizações foram decididas juntamente com técnicos públicos envolvidos na obra, após inúmeras discussões incluindo questões como, por exemplo, os trajetos naturais de pedestres do lugar, a proximidade aos pontos de ônibus, as eventuais obstruções dos acessos de veículos aos lotes lindeiros, os movimentos de entrada e saída do Corpo de Bombeiros, a viabilidade das desapropriações circunstancialmente necessárias, e, também, a convivência com a vegetação existente e com os componentes dos sistemas de infraestruturas subterrâneos, superficiais e aéreos instalados no local.

Além dos mencionados fatores locacionais, a configuração das passarelas atentou à obrigatoriedade de contemplar, de acordo com as normas brasileiras vigentes, a acessibilidade universal por meio de rampas com suave declividade, bem como se preocupou em oferecer escadas convencionais para os que desejassem um deslocamento vertical mais rápido.

Houve, da mesma forma, o cuidado de criar pontos de abrigo para o percurso de travessia, pois, como sabemos, na nossa Belém, são intensas, durante o ano todo, a insolação e as chuvas.

O desenho das passarelas considerou, ainda, a necessidade de inexistirem elementos que dificultassem a visibilidade do trajeto dos usuários, para que, às vistas de todos, se inibisse a ação da criminalidade no conjunto.

Outro aspecto a interferir na constituição física das passarelas foi a condição de montagem de suas partes. Erigidas sobre vias de grande circulação, suas instalações precisariam, para não causar tumultos no trânsito, ser práticas e rápidas, como de fato foram.

Ao lado de todos os fatores acima elencados, a natureza pública da obra exigiu que sua concepção e materialização se fizessem de forma econômica, também.

Assim sendo, as treliças metálicas vazadas com pisos de placas pré-moldadas em concreto, apoiadas sobre consoles cobertos igualmente feitos em concreto que, juntos, constituem as passarelas observaram questões de localização, uso, segurança, estrutura, edificabilidade e, sobretudo, custos.

A implantação da passarela da Avenida Júlio César é uma obra que envolve não apenas a construção do equipamento propriamente dito, mas, também, o redesenho do sistema viário. No local apropriado e utilizado para sua instalação, os passeios originalmente são estreitos e existe um canteiro central com aproximadamente 4 metros de largura dividindo as duas mãos da via. O projeto elaborado pela Meia Dois Nove determina o deslocamento dos eixos das duas vias que compõem a avenida, aproximando-os do canteiro central, o qual deverá ser substituído por uma mureta em concreto (new jersey) com 80 cm de espessura. Essa medida possibilitará o alargamento das calçadas de forma a proporcionar espaço para a montagem das passarelas.

A nova configuração da avenida, uma vez executada, manterá, em cada mão da via, as duas faixas de rolamento hoje existentes, e, também, as ciclofaixas.

Até o presente momento, as obras não estão concluídas. O redesenho no sistema viário sob a passarela da Júlio César não foi iniciado. Os blocos de acesso, por conseguinte, continuam implantados sobre a via em sua original configuração, obstruindo e reduzindo perigosamente suas caixas, e, também, dificultando a circulação pelos passeios. Além disso, ainda não foram construídas as coberturas dos consoles.

As preocupações manifestadas, portanto, com o circunstancial estado das coisas é pertinente. Entretanto, tão logo se concluam os trabalhos, obedecendo com fidelidade todas as determinações projetuais, haverá condições mais nítidas para avaliar as referidas passarelas.

Independentemente dos juízos que se façam, a discussão suscitada pela atual situação do complexo viário e seus elementos aqui tratados é altamente positiva. O debate amplo, ao lançar luzes sobre aspectos como, nesse caso, a qualidade das obras públicas, certamente contribuirá para melhorar o nível dos projetos, e, também, para ampliar os cuidados com suas execuções.

José Maria Coelho Bassalo e Flávio Campos do Nascimento, autores do projeto.

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